O MLV luta pela conservação! Sò com a Conservação do meio ambiente nós seres humanos conseguiremos ter um vida com qualidade!
Uma entrevista a Folha,o geógrafo Mario Mantovani afirma aquilo que todos nós já sabemos. Mas quando alguém com o nome dele diz paramos para prestar atenção. O MLV concorda que o governo Dilma é o pior na história (ainda arriscamos dizer que ele é só continuação do gov. Lula), quando o assunto é meio ambiente, e também concordamos que a Marina Silva não deveria se unir ao PSB.
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Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, é um dos mais ativos ambientalistas do país. FONTE: FOLHA |
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Veja a matéria pela Folha
O geógrafo Mario Mantovani
trabalha há cerca de dez anos como uma espécie de "lobista da
natureza" no Congresso Nacional.
Diretor de políticas públicas da
Fundação SOS Mata Atlântica, ele tenta influenciar os projetos relacionados ao
tema e coordena informalmente a chamada Frente Parlamentar Ambientalista, fórum
com adesão de 187 dos atuais congressistas para debater assuntos da área em
reuniões semanais.
Militante da causa desde 1973,
conhecido como um dos mais ativos ambientalistas do país, Mantovani não parece
medir palavras para expor suas opiniões.
Diz, por exemplo, que a
presidente Dilma Rousseff faz o "pior governo da história" para o
meio ambiente. Que a aliada Marina Silva não deveria ter ido para o PSB. Ou que
o melhor parceiro dos ambientalistas em Brasília é o deputado Zequinha Sarney,
filho do ex-presidente que ostenta alta rejeição fora do Maranhão.
Nesta entrevista ele discorre
sobre alguns dos principais problemas ambientais do país e conta que, a exemplo
do que já fizeram os fazendeiros, os ambientalistas também irão sentar com
todos os candidatos à presidência para listar suas reivindicações. O senador
Aécio Neves (PSDB-MG) foi o primeiro deles.
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Raquel
Cunha/Folhapress
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Mario
Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, é um dos mais ativos
ambientalistas do país
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Folha - O ex-ministro Roberto
Rodrigues (Agricultura) disse o assédio dos candidatos à turma do agronegócio
nunca foi tão forte e antecipado. O que achou?
Mario Mantovani - É verdade. Acho que o Roberto
tem toda a razão quando fala do volume econômico. A situação do Brasil não é
boa, a indústria está ruim. Hoje, o que está bombando são as obras públicas,
Copa do Mundo e esses eventos, e a indústria da construção. Mas é coisa que
circula aqui dentro, o Brasil não faz caixa. E o que a gente viu agora foi que
esse dinheiro do agronegócio realmente cresceu muito também. O Brasil está cada
vez melhor no agronegócio. E é muito bom isso. Onde está o problema? É que isso
é uma commodity. A decisão não é aqui. O valor da commodity é decidido na Bolsa
de Chicago, em Nova York. Eles já ficam com o radar ligado, olhando o clima,
tudo. E isso cria impacto para todo lugar.
Mas e a política?
Quem está fazendo política em Brasília, como eu faço, vê que não é assim. Esse
setor [agrícola] é o que mais tem voto de cabresto ainda. É o que vive
especificamente de seus currais eleitorais. É o político de Ribeirão Preto que
mantém lá todo um grupo ligado a ele, as cooperativas, tudo isso. Esse pessoal
sempre esteve ligado à política partidária. Mas antes era cada feudo para o seu
lado. Dessa vez o governo está vendo [o agronegócio] como uma grande força. Vem
da luta em torno das mudanças do Código Florestal. Eles [os fazendeiros] se
mostraram muito mais eficientes para fazer política do que se mostravam
antigamente.
Como foi essa virada?
Os ruralistas acharam um governo que aceitou a chantagem. Até então, essa
chantagem se repetia: "Se vocês não fizerem tal coisa, não vai ter
comida", diziam. "Se não fizerem isso, o Brasil vai ficar nos
rincões". Mas o governo não entrava nisso. O governo dizia: "pare de
encher o saco, quem está bancando vocês sou eu."
Com crédito?
Com crédito agrícola. Que nunca foi tão alto como agora. R$ 150 bilhões hoje.
E quando mudou?
Quando o governo precisou refazer essa base eleitoral. Nós tivemos uma baita
crise com a base, que foi o mensalão. Qual é o setor mais suscetível e que mais
precisa do governo para funcionar? É o setor agrícola. Se não tiver o crédito,
não vai para frente. Eles têm direito a isso [ao crédito]. Só que no Brasil não
funciona assim, com direitos. Funciona com quem é mais próximo do poder, aí tem
menos burocracia. Como o mensalão quebrou as pernas do governo –repare que na
base do mensalão não tinha ninguém do meio agrícola, era tudo gente das regiões
metropolitanas–, o governo, para refazer a base, buscou os ruralistas. Até
então eles não tinham expressão nenhuma. A gente entrou com esses caras em
muitas brigas, inclusive sobre o Código Florestal, e eles nunca levaram.
Fizemos o Mais Ambiente (programa de cadastro rural), a Lei da Mata Atlântica,
a Lei dos Crimes Ambientais, a Lei das Águas e outras. Com alguns deles votando
com a gente, inclusive. Mas com a crise do mensalão, quando o governo buscou
uma nova frente de apoio, aí começaram as negociações. E aí eles descobriram
que poderiam ir avançando.
Dê um exemplo desse avanço. Como
é na prática?
Ocorreu no Código Florestal. Eu participei de cada detalhe da tramitação. Então
cada vez eles colocavam um bode na sala. "Nós queremos que acabe com a
função social da terra". Não dava, o PT não poderia trair assim.
"Então exigimos meia função social da terra", diziam. Aí o PT foi
fazendo, fazendo, cedendo. E teve o papel do neocomunista Aldo Rebelo (deputado
do PC do B-SP), que foi presidente da Câmara, sabia como funcionava a Casa.
Eles já tinham conquistado uma coisa que o governo comeu a maior bola, que foi
uma comissão especial para tratar do Código. Com isso, não passaria mais por
outras comissões. A Força da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil) era muito violenta também, a CNA estava bancando todos os eventos do
governo. Então eles avançaram muito.
As disputas não ficaram só sobre
o Código, certo?
Eles perceberam a força que tinham no episódio do Código. E aí continuaram as
pressões: "queremos mais dinheiro para o crédito", "queremos
agora estrada para levar a produção". Então, além de estarmos bancando R$
150 bilhões de crédito agrícola, você tem dinheiro do governo hoje para fazer
infraestrutura, para fazer mais cidades e até algumas insanidades. Exemplo é o
caso dos motoristas de caminhão que tinham que descansar de duas em duas horas.
Os caras derrubaram isso, porque agora o caminhão de soja tem de sair de
Rondônia e bater em Paranaguá (PR) o mais rápido possível. E tem o dinheiro que
começa a financiar caminhão, também fora do crédito agrícola. Uma estrutura
nova do Brasil.
Mas muito disso é legítimo, não?
Qual é o grande problema?
A grande sacanagem é ver tudo isso avançando em cima de área pública. E
avançando numa frente na floresta. E conforme avança, uma área fica para trás,
vazia. Essa área fica para especulação.
Como isso ocorre?
Vamos pegar na Mata Atlântica. Dos 90% que foram abetos, só 40% tem alguma
atividade econômica em cima. O resto é especulação: região metropolitana,
expansão das cidades. E muita área abandonada. Qual é o jeito de abandonar? Põe
pasto.
Quem conduz isso hoje?
Não são as mesmas oligarquias de antes, as velhas oligarquias. Isso mudou. São
as novas oligarquias do crédito. Tem os melhores, como o próprio Blairo [Maggi,
produtor de soja e ex-governador do Mato Grosso], que se diz ambientalista. Ele
já desafiou os caras: "eu cumpro a lei e faço mais".
Mas é bravata ou é real?
É real. Ele está além da conta. Na reserva legal [parte preservada da mata que
toda fazenda precisa ter], ele está acima. E muitas empresas acabaram fazendo
isso. Também porque colocaram como ativo: "eu protejo", "eu sou
o cara que mais protege". Isso funciona como marketing.
E isso não racha o setor?
Ainda não. Mas vai rachar. E não é uma questão de estar ou não estar do lado
dos ambientalistas. É uma tendência, não tem jeito, não volta mais.
Quais são as contas que vocês
fazem?
É assim: Dos 860 milhões de quilômetros quadrados que tem o Brasil, há 5,5
milhões de propriedades que dizem que são donas de 560 milhões de hectares. Só
que em 60 milhões de hectares é onde está a agricultura. Dentro disso você tem
uns 25 ou 30 milhões de soja, 10 de cana, 7 de celulose e vai indo até a
abobrinha. E tem 200 milhões de hectares para pasto. Para 200 milhões de bois.
Bom, então toda a atividade econômica da agricultura está concentrada aqui: 260
milhões de hectares, somando a plantação e o pasto. Já não é um bom negócio,
pois nessa conta dá um boi por hectare. Hoje, para ser uma pecuária boa, você
precisa de três bois por hectare. Mas a questão é outra. Se eles têm 560
milhões de hectares e usam 260 milhões, onde está o resto? Cadê os 300 milhões
de hectares restantes?
Onde está?
Na mão de especulação. Terras devolutas, Unidades de Conservação, Terras
Indígenas. E tem outras coisas que eles não falam. Você tem 30 milhões de
hectares para a soja. Se o cara de Chicago descobre que agora vai ter dois bois
por hectare e, portanto, vai sobrar 100 milhões de hectares, isso não quer
dizer que vai dobrar a produção de soja. Porque se fizer isso, o preço cai.
Esse número [30 milhões de hectares para a soja] é contadinho, não vai crescer.
As próprias produtoras de semente param de vender. Não vão arriscar. Então, na
realidade estamos fazendo a conta mais imbecil. O Brasil fica falando de "uma
agricultura que vai produzir alimento para o mundo, nós queremos
expandir..." Não vai expandir. Está no limite. Celulose está no limite,
cana no limite, soja no limite. Só não está a abobrinha. E desses R$ 150
bilhões do crédito, não chegam R$ 15 bilhões para a agricultura familiar. E
mais uma coisa: 80% dos proprietários têm menos de 20% das terras. E 20% têm
80% da terra. Então é essa desigualdade toda. E é essa a bancada que partiu
para a chantagem com o governo. E o governo aceitou.
E o dinheiro?
Para ver como funciona eu fui agora lá no Agrishow comprar equipamento. Em
2012, fui com o balão "Veta Dilma" [sobre o Código Florestal] e
fizemos um barulho (risos). Agora eu fui comprar. Apareci lá falando que estava
precisando comprar colheitadeira de cana, todo o equipamento, caçamba, tudo
aquilo. Aí falei: "Como é que assina esse financiamento aí? Minha
propriedade tem todos os problemas ambientais, como eu faço?". Sabe qual
foi a resposta? "Seus problemas acabaram!" (risos). Disseram:
"Você vai receber sua máquina em um ano, vai pagar tanto, esquece o
problema [ambiental], Código Florestal... E se você precisar de uma [picape]
Amarok aí, para ir quebrando o galho, pode pôr na mesma conta, vai receber na
hora". E assim era com Toyota Hilux, tudo. Era uma grande farra do
dinheiro. Eu fui de agroboy lá, bota, aquele fivelão no cinto (risos). Os caras
não perguntavam quem eu era, nem nada. Tem CPF, faz negócio.
Difícil imaginar que o Brasil
deixará de ser fornecedor de produto básico. O que deveria ser feito?
Nós não vamos mudar, deixar de ser um país de commodity. Vai continuar assim,
como já era desde 1500. O ciclo do ouro, o ciclo da borracha, o ciclo do café,
depois o da cana. Agora tem o da soja. A nossa visão é que agregue nessa
commodity a questão ambiental. Então se você comprar uma tonelada de soja do
Brasil, você estará levando biodiversidade, porque tem corredor de
biodiversidade formado pela APP (Área de Preservação Permanente), tem reserva
legal de 20%, está protegendo floresta, tudo isso.
Mas o chinês está preocupado com
isso? Vai pagar?
Você tem um mercado maior que o chinês. Para ele tanto faz comprar da Argentina
ou o excedente dos Estados Unidos. E a tonelada de soja no Brasil pode custar a
mesma coisa. A soja brasileira tem de ser conhecida no mundo. Como foi com o
café. O café do Brasil era uma marca, todo mundo sabia que era o melhor por
isso ou aquilo. O Brasil precisa pôr uma marca no mundo dizendo "somos
produtores de alimento, o celeiro do mundo, mas o celeiro que protege a natureza".
O que tem hoje? O que há é uma diplomacia reativa. Como é que o Brasil não leva
isso para uma conferência? Poderia dizer "olha o que temos de reserva
indígena, olha o que temos de parque".
O que o Brasil fala?
O que a diplomacia fica falando? Fica dizendo assim: "O Brasil não destrói
índio". É reativo, percebe? Poderia fazer assim: "Compre tudo o que é
feito no Xingu que é para proteger o Xingu. Todos os proprietários lá fizeram a
reserva legal e estão fazendo a proteção dos rios com mata, tudo legal". É
isso que o Brasil tem. Como eu achei que iria acontecer com o etanol, mas não
aconteceu. A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) fez um trabalho
maravilhoso, projetou, foi com escritório lá fora e tudo. O que aconteceu?
Murchou. Aqui dentro não teve suporte.
O ex-presidente Lula tratava como
prioridade. Pelo menos no discurso, não?
O Lula dava suporte, mas esse governo não deu. Esse governo foi atrás do
[petróleo da camada] pré-sal, fez uma aposta que até agora não aconteceu e está
aí hoje a conta para ser paga. O que fez a celulose? Perguntaram: "O que é
que tem no mundo aí que é bom? É o FSC (Forest Stweardship Council), a
certificação florestal? Hoje todo mundo é FSC no Brasil. Falaram assim:
"Tem alguma coisa mais para cima que FSC no mundo? Não? Então é isso,
somos isso".
As empresas mudaram?
Pegue a Veracel [empresa de celulose], que foi minha inimiga mortal 20 anos
atrás, lá no sul da Bahia. Eu fui em audiência lá em que o pessoal dizia
"lincha". Hoje a Veracel tem 120 mil hectares protegidos e 90 mil
plantados. É muito mais que o necessário. Eles têm o FSC, que o melhor do
mundo, e estão além da lei [na proteção]. Aí você pega Parque Nacional Monte
Pascoal, Parque Nacional do Descobrimento e Parque Nacional do Pau Brasil.
Esses três parques não somam 80 mil hectares. Estão abandonados, sem gente. Por
que uma empresa mantém 120 mil hectares, não pega fogo, ninguém invade? São 120
mil de mata nativa, mata de primeiríssima qualidade. E os parques do governo,
na mesma região, estão cheios de problemas. Por que o governo não consegue
proteger? Aí está a prova. O Estado é a coisa mais fácil de detonar. Estão lá
os políticos fazendo média, botando família para invadir, movimento de sem
terra resolve brigar com o governo e invade, índio resolve brigar e invade o
parque. E o governo não tem gente para cuidar.
Fale mais dessa história da
Veracel.
Eles tinham fama de terem sido detonadores. Foram. Foi provado. A SOS [Mata
Atlântica] pegou os caras lá, abrimos uma ação contra eles. Então o que eles
fizeram? "Bom, vamos mudar a imagem". E o governo também teve um
papel nisso. Quem financiou? Quem é que falava para os caras que o
licenciamento era picareta? O ACM (Antônio Carlos Magalhães, ex-senador e
ex-governador da Bahia) dizia assim: "Pode meter o trabalho, vai, faz,
aqui quem manda sou eu". Os caras foram nessa, se ferraram. Hoje é da
Votorantim. Fibria, como chamam. É nota dez. Eu prefiro trabalhar com a Fibria
em qualquer circunstância. Tudo top. Na celulose, todos têm reserva legal, como
exigem, todos têm APP. E ajudam nós nas brigas. Tanto que não entraram no
debate do Código Florestal com os ruralistas. Claro que não. Se entrar nisso,
não certifica. E quem dá o certificado não é o governo, é entidade
internacional. Disseram o seguinte para os parceiros deles: "Por que vocês
não querem fazer, se nós fizemos?" Aí o pessoal respondeu: "então
vocês não entram na briga [pela mudança do Código], porque nós vamos
brigar".
Depois de vários anos em queda, o
desmatamento voltou a crescer. Qual é a explicação?
É a prova da má gestão. Eu estou há 35 anos em ONG. Não estou em partido
nenhum, nunca tive nenhum vínculo. O que eu vejo que aconteceu? Eu digo: para o
meio ambiente, este é o pior governo da história. Porque o Lula pelo menos
incorporou, colocou a Marina Silva [no ministério do Meio Ambiente], fez
avanços. A lei da Mata Atlântica, por exemplo, foi com o Lula. A Dilma
simplesmente passou o trator em cima de tudo. Não tinha o desmatamento na
Amazônia porque tinha o controle muito maior, toda a fiscalização. Com o
desmonte da Dilma nesses anos, mudou. E a projeção de desmatamento é muito
maior daqui para a frente. Ela abriu todos os controles. O desastre que a Dilma
causou vai ser uma coisa para os próximos 10, 20 anos.
Dê exemplos.
O orçamento do ministério. É o pior. Como é que você quer que o ministério que
faz licenciamento trabalhe se você não tem um técnico para análise? Acabou com
as Unidades de Conservação, não fez mais nenhuma. A PEC 215 (Proposta de Emenda
à Constituição que transfere a competência da União na demarcação das terras
indígenas para o Congresso), por exemplo, nasceu dentro do governo. É um baita
desgaste. Belo Monte, do jeito que foi encaminhado, é uma bola dividida.
Mas era bom antes? Restrição
orçamentária tem em todo lugar.
Sim, mas nunca chegou no nível que tem hoje. E nunca teve tanta demanda como
tem hoje. Desde a criação o ministério vinha crescendo, vinha incorporando
áreas, passa a cuidar de parques, cresce, faz o Instituto Chico Mendes. O que a
Dilma fez foi o inverso. Ela acabou desmontando. Antes traziam recursos,
fizeram o controle de satélite que não tinha. A Dilma realmente desmontou. O
setor que mais teve contingenciamento foi esse.
E a ministra (Izabella Teixeira)?
É uma técnica. Muito competente como técnica, mas não tem influência política.
O Zequinha [Sarney, ex-ministro] sabia negociar. Mesmo o [ex-ministro] José
Carlos Carvalho tinha algum suporte. A Marina fazia uma baita representação.
Ela peitava, ia para cima, tanto que peitou a própria Dilma. O que vimos é que
essa ministra [Izabella] ajudou a fechar a porta, foi botando panos quentes.
Vocês estiveram recentemente com
o Aécio, né? Como foi a conversa?
Estivemos. Vamos marcar com o [Eduardo] Campos e também com esse governo. A
conversa foi muito boa. Falamos de todas essas dificuldades e outras coisas. O
ativo que o PSDB tem é grande. A legislação ambiental brasileira foi quase toda
feita pelo [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, uns 90% foram feitos
naquele governo. Dissemos. "Vocês vão rasgar tudo isso por causa desse
momento?"
Como ele reagiu?
Reagiu com preocupação. E aí depois nós metralhamos. O governo de Minas Gerais
é o campeão da devastação no caso da Mata Atlântica. E por quatro anos
seguidos.
O que ocorre por lá?
Carvão, a pior coisa do mundo. E o que é pior: com famílias trabalhando nos
fornos. No Jequitinhonha [norte do Estado], que é um dos lugares mais pobres,
para uso na siderurgia. Eles usam a mata, transformam em carvão e colocam a
família trabalhando sem nenhum registro. É a coisa mais medieval que tem. O
cara fala que vai fazer um programa ambiental e vem de um Estado que está
liderando na devastação? Aí ele ficou preocupado, disse que iria ver o que
estava acontecendo. E não é só lá. O Pará também é do PSDB. Também é
problemático, com desmatamento.
E no Congresso, como está o meio
ambiente hoje?
Em geral, dá para dizer que o meio ambiente vem tendo cada vez mais adeptos.
Esse ano que passou talvez não tanto na questão da biodiversidade, mas na
questão dos animais. Pet, essas coisas. Se você pegar nas redes sociais, é um
fenômeno. Tem mais pet shop no Brasil hoje do que farmácia. Então tem mais
gente ligada à questão de animais. O pessoal do pet em Brasília foi o que mais
cresceu. É uma coisa impressionante.
A bancada do cão? (risos)
(risos). É a bancada do pet, acho. No nosso café da manhã semanal da frente
ambientalista é a turma que mais tem atividade. É o que mais tem atraído gente.
Como é essa frente ambientalista?
Um levantamento recente do jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que
muitos deputados aparecem na frente, mas também são da bancada ruralista.
São quase 300 pessoas que já assinaram na frente ambientalista. E não é uma
frente ideológica. É uma frente de formação. Então se o parlamentar não está
comigo hoje na questão do Código Florestal, ele está na discussão sobre
resíduos sólidos. Se o outro não está num tema tal, pode estar na discussão
sobre pagamento de serviços ambientais. A questão é saber com quem você pode
contar em cada questão. Então temos os grupos de trabalho: o das águas, o dos
serviços ambientais, o dos animais, que é hoje o mais animado. E tem muitos no
do Código Florestal também, agora acompanhando a implementação.
Os ambientalistas fizeram campanha
contra a mudança do Código Florestal e perderam. Se era ruim, por que agora
querem a implementação rápida?
Mas tinha coisa boa nele. Nós queremos o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Isso
vai mostrar quem é quem. Foi a coisa que a CNA foi mais contra. Olha, acho que
só teve um momento em que a concentração de terra foi mais desigual que hoje,
só na época da capitania hereditária. O maior problema ambiental brasileiro é
fundiário. Começa aqui mesmo, em São Paulo, na [represa de] Guarapiranga, em
Santo André, na [represa] Billings. Se você pegar aqui, na zona sul [de São
Paulo], eu te garanto: 80% das pessoas que moram lá não tem nem documento em
cartório, o título. Uma insanidade. O Brasil é completamente irregular. E 90%
dessas ocupações foram feitas por políticos. Você sabe, os políticos que
fizeram a ocupação em Santo Amaro [bairro da zona sul] são os que mandam aqui
em São Paulo hoje, junto com o [prefeito Fernando] Haddad. O maior problema é o
fundiário. Então vamos fazer cumprir o Código naquilo que os ruralistas têm
maior pavor, que é o controle.
Mas o que se sabe hoje?
Nada.
Como nada? Você sabe quem são os
grandes. Você mesmo citou o Blairo Maggi, por exemplo.
Ah, você tem dois ou três. Mas não se sabe os grupos que estão atrás, não
sabemos o quem é quem nessas propriedades. E tem um monte de laranja nisso.
Então se você tiver o CAR de todas as propriedades, vai saber quem está aonde,
como é que está a reserva legal, os limites exatos da propriedade, tudo
georreferenciado. Aí você vai saber o tamanho desse Brasil. Como era antes?
Tinha a lei que dizia que tinha que tinha que ter reserva legal, mas você não
sabia onde nem como. Tinha a lei que dizia que tinha que ter APP, mas não se
sabia onde nem como. Agora vamos saber. Quantos proprietários foram
beneficiados com a anistia ampla, geral e irrestrita [para desmatamentos feitos
antes de 2008] que colocaram no Código? Vamos saber. Quem são eles? Vamos
saber. E esses desmatamentos anistiados estão aonde? Vamos saber. Então são
elementos para você conhecer e depois entrar na Justiça.
Meio ambiente dá voto?
Nunca deu.
Não é um paradoxo? O tema nunca
esteve tão na moda. O apelo está por toda parte, virou marketing das grandes
corporações, mesmo as que poluem, está nos discursos de todos os partidos, na
mídia, nas escolas...
É, mas ainda não dá voto. O que dá voto? Vai para o cara que faz asfalto, o que
dá cesta básica. É o de sempre. A população ainda não tem essa visão sobre meio
ambiente. São temas universais. É como a reciclagem: todo mundo é a favor, mas
só 2% fazem. Ou saneamento. Todos sabem que cano enterrado não dá voto. Hoje o
cara diz "eu fiz um posto de saúde, fiz o hospital regional". Aí você
pergunta quantos dos internados nesse novo hospital são por doenças de origem
hídrica. Dá 70%. Agora, se fizer um metro de cano, tira sete internações. Mas
aí ninguém vê. E é tudo muito recente. Muitos desses ruralistas têm razão
quando falam. Eles dizem: "30 anos atrás foi o governo que mandou derrubar
[a mata], mandou colonizar". Na cidade também é recente. Trinta anos atrás
você não tinha uma lei de uso de solo como tem hoje. Agora tem de ter recuo de
frente, de lado, calçada, tudo. Não existia antes. Essas coisas serão cada vez
mais exigidas, pois estamos vendo que a cidade fica inviável. Então é muito
pouco tempo. Qual é a história do Brasil? Depreda, depreda, depreda. A natureza
era uma coisa a ser conquistada, a ser incorporada, nunca teve custo. Esgotou a
terra? Abre outra, vai abrindo.
No meio político todo mundo se
surpreendeu com a filiação da Marina Silva no PSB após o fracasso da criação da
Rede a tempo de disputar em 2014. Entre os ambientalistas também houve
surpresa?
Também. Eu não esperava. Eu esperava que ela seguisse firme com a história da
Rede e não se entusiasmasse com essa eleição de 2014, que é uma bola dividida.
Agora, o que acho que deixou a Marina contrariada é que ocorreu uma baita
sacanagem, né? Eles já tinham conseguido as assinaturas [para criar o partido].
Você acha que o Partido Ecológico Nacional conseguiu as assinaturas? O Paulinho
[da Força, para criação do Solidariedade]? Então acho que foi uma resposta dela
a esse tipo de agressão. No meio, tem gente que gostou [da filiação ao PSB]
porque acha que tem de ocupar espaço político. Outros não, como eu. E eu não
acho que tem de ter um partido só de meio ambiente. Muito melhor é ter o
assunto permeado em todos, PMDB, PSDB, PV, PSOL. O PT tinha um grupo muito bom,
mas esvaziou. Mas eu não sei se ela terá tanto ganho quanto teve quando
concorreu sozinha.
Quem é melhor parlamentar para
tratar de meio ambiente em Brasília hoje?
O Zequinha (Sarney Filho, PV). É o cara mais nota dez com quem eu já trabalhei.
E vai se ferrar por causa disso, viu? Porque a base eleitoral dele no Maranhão
é onde está o agronegócio hoje. E os caras estão jogando pesado contra ele lá.
Pesado mesmo, detonando. Ele vai ter muito problema para se reeleger. O
Zequinha... Fiz todas as campanhas contra o pai dele... E é uma coisa
impressionante, ele é o meu melhor parceiro lá em Brasília. Desde ministro.
Antes até. É o cara mais coerente de Brasília. Eu o conheci antes da
Constituição. Na Constituição ele nos apoiou, participou daquele primeiro grupo
pequeno, que diziam cabia numa Kombi (risos). E foi aquele grupo que escreveu o
capítulo do meio ambiente na Constituição. O cara teve uma vida pautada nesse
tema. É por isso que foi ministro, já tinha história.
E no Senado?
Tem gente boa. Você tem o senador de Brasília, o [Rodrigo] Rollemberg (PSB-DF),
ele é muito bom. E tinha lá o [Jorge] Viana (PT-AC), né? Mas foi uma das
maiores traições que a gente teve, um terror. [Viana foi um dos relatores das
mudanças do Código Florestal e, na avaliação dos ambientalistas, atuou em
desacordo com os interesses do meio ambiente]
Já acertaram as contas com ele?
Ah, não. Vai ser difícil. Foi terror. Eu mesmo nunca mais falei com ele. E olha
que eu converso com todo mundo. Ele traiu. Traiu a Marina até.
E a senadora Kátia Abreu
(PMDB-TO, presidente da CNA), que aparece como porta-voz dos fazendeiros?
Ela é a amiga da presidente, né? Aparecem de mãos dadas. A Kátia é aquela
coisa... É o problema pessoal dela. É tudo complicado. Essa mulher tem
interesse particular, não é nem interesse corporativo. Eu acho que a bola lá
está dividida por lá. Acho que o Roberto Rodrigues, por exemplo, tem uma visão
totalmente diferente da dessa mulher. É possível conversar com o Roberto. Com
ela, nem pensar, é impossível. E ela tem bala, tem 20 e tantos assessores
parlamentares, os melhores jornalistas estão com ela agora, cada dia produzem
uma nota. E ela está bem. Bancou o Brasil no Fórum Mundial de Água. Ela tentou
colocar aquela tese de que se o Brasil tem APP então todos os países tinham que
ter. Nós fomos lá e demos o "Troféu Copo Vazio" para ela (risos). Aí
eles ficaram bravos, "quem banca esse estande somos nós". É desse
jeito, é ridículo. Então ela está fazendo confronto, não faz diálogo. Todos os
posicionamentos dela são agredindo. Muito do que foi o Aldo Rebelo no fim.
Aquela conversa "as ONG internacionais", "os que querem impedir
o Brasil". Ora, eu não sou ONG internacional.